Ridendo Castigat Mores

Ela empinou pra lá a bunda, pedindo a ele que esfregasse mais para baixo, um pouco mais distante das costas, porque ali a massagem era boa, muito boa, só não melhor do que nas virilhas e nos pés, mas ganhando inclusive das mãos.

E assim os dedos iam satisfeitos, úmidos de Paixão, como acontecia toda terça e domingo, que eram os dias em que a mãe dele ia à igreja e o deixava com a vizinha, “Ai, minha filha, são os dias favoritos dele na semana”, a velha repetia toda vez que o entregava na porta ao lado, agradecendo pela disponibilidade e prometendo fazer uns doces, assar uns bolos, apresentar o nome da mulher em oração.

O menino tinha já mais de vinte e poucos anos e permanecia menino por causa da cabeça, explicava a mãe, que não crescia nunca em maturidade; era um inocente no meio de lobos devoradores, com uns olhões gentis e, no começo, muito desconfiados também.

Detestava o padre e a lenga-lenga das rezas e, à menor vista do homem santo, gritava feito um condenado em pleno suplício, de modo que a mãe, senhora muito devota, fazia três meses começou a deixá-lo com a vizinha, uma mulher divorciada que recentemente tinha perdido seu cachorro para a doença do carrapato.

Um dia, a mulher entortou o pulso por conta de ter segurado de mau jeito uma panela cheia de água, e foi quando descobriu os talentos do menino, antes abandonado à televisão, para fazer massagem. Tudo espontâneo: ele correu até a cozinha, pegou o bracinho dela e começou a massagear. Ai, santíssima descoberta, que eram Deus no céu e as mãos daquele menino na terra!

A coisa progrediu rapidamente. Dali em diante, tudo era razão para massagens, e as peças de roupa foram sendo eliminadas semana após semana, até que a mulher resolveu comprar uma cama para massagem profissional e solicitar, com óleos e hidratantes, que o menino ajudasse a “sarar os machucados” por todo o corpo.

Não havia machucados e ele bem sabia disso, mas pouco importava. É que massagear exigia uma técnica muitíssimo elaborada, um desafio estupendo!, era preciso agarrar o músculo do modo certo, cirúrgico, como mostrava o Dr. Sazaki Yakasuma Ionishi nos seus vídeos.

Ilustração de Fabiano Seixas Fernandes
@fabiano.seixas.fernandes

Houve uma terça, no entanto, em que os fiéis foram dispensados da igreja por falta de energia e, voltando para casa muito mais cedo, naquele dia, a mãe do menino o encontrou com as mãos cheias de óleo, os olhos brilhando e a língua meio para fora do lado direito da boca, enquanto ele massageava, muito concentrado, a vizinha nua!, nua em pelo!, feito uma jezabel dissimulada e gemedeira.

Teve exorcismo emocionado, jarros voadores se espatifando no chão e vizinhos curiosos, que só não chamaram a polícia porque entenderam logo que não era o caso.

O menino pedia, todo elegantemente, tal qual um cidadão ético interrompido no momento do exercício profissional, que a mãe se acalmasse e fosse para casa, “estou trabalhando”, ele dizia, mas não podia ser, “não criei filho para gigolô”, ela replicava, “sua aproveitadora, não vê que é uma criança inocente?!”, emendava, acusando a mulher de ser concubina de Satanás, enviada para desvirtuar o querido menino que, por vontade de Deus, tinha nascido e se criado, em virtude do espectro, para sempre inocente dessas coisas. Um engano!

No fim das contas e com a bênção de uma psicóloga, após um processo que não cabe a nós revelar, foi embora de casa, o menino, depois de se unir à vizinha em planos suculentos e de arranjar um emprego como massagista profissional em uma clínica de beleza, a serviço do Inimigo, como dizia sua mãe, que era capaz de fazer lúcido um homem por meio do estremecimento de suas partes baixas.

Pobre ignorante.

Era também chorando que se castigavam os costumes.

Comentários

  1. Ri bastante com a terapia mutua: ela curou-se de dores e do desamor; já ele... Num instante criou juízo e descobriu o que era bom!

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