desejo dela

Às segundas, as professoras se reúnem para planejar.

Cenário sem desagarros, sem aflições. O que você pensa que está fazendo?

Não diga nada. Não se comprometa.

Faz um rodeio, um floreio. Mas ela não pode saber. Minta. Isso, isso. Minta.

Ela não vai te dar ouvidos. Se der, vai ter medo de você. Risada? Só se fosse muita sorte!

E o peito dela, redondo, não vai sequer palpitar.

Veja você, ingênua predadora, olha para ela como se visse o único lugar que importa no mundo, imaginando a velocidade e temperatura do sangue suculento no pescoço macio. Não seja besta. É noutro que ela pensa, com outro que se deita.

Por isso, não fala nada. Espera, não se comprometa.

Arranca esta página e joga no lixo mais próximo. É que ela, sentada tão perto de ti, tem os poros longe, o suor noutro país, a penugem noutro hemisfério. Então, minta.

Fala pra ela que gosta de um outro também. Mesmo sentindo essa sede, esse calor, esses vapores no meio das pernas, no alto do peito, nas palmas das mãos!, não têm feito nem 15 graus, esses dias!

E mesmo assim o coração vai espatifado no asfalto de meio-dia: chega frita, ai, que dor!

Mas, espera.

Espera mesmo que ela te olhe como quem conta um segredo, olhinhos hihihi, tudo coisa da sua cabeça, como quem gostaria não de amar um outro, sozinha, mas de ser amada do jeito que você imagina às segundas-feiras, todinha, ai, meu deus!, como quem tem os seios prontos pros teus lábios, os lábios prontos pros teus desesperos.

Espera. São só desejos.

De mulheres que não podem se amar.


Ilustração de @valentinemsm1th


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