O sonho

E xistem sonhos duma espécie aquosa e febril, eu diria, cuja umidade primeira absorve os calores segundos, unindo a noite ao dia, amanhecendo feito sol por entre as pernas e fazendo os olhos se abrirem junto com os céus. Foi assim ontem à noite, quando eu sonhei com você. Nesse tempo impossível de ser mensurado, cheio de cores difusas e granuladas, o meu corpo derretia pela tua boca, quando eu conscientemente te segurava os cabelos e te fazia ficar, meu sonho, eu pensava, aqui fazemos o que eu quero, estremecia, sorrindo dessa terra de ninguém que vive debaixo das pálpebras e para a qual criamos relevo, flora e fauna, a nosso gosto, quando temos a sorte da visita lúcida. Eu segurei o teu rosto e me apaixonei pelos teus olhos e cílios, você sabe como é se apaixonar num sonho? Desesperador, imagine, quando eu tentava distinguir o gosto dos teus lábios molhados e dentes e língua e o sabia impossível, impossível! Despertei em chama, mas sem gota de suor, resfriada pelo tempo ...