Pobre criatura

Me deixa ser o seu nadinha, ele implorou, ajoelhado diante de mim enquanto esperava, da minha boca, uma palavra de salvação. Em resposta, empurrei com força o bico do meu sapato alto no peito dele, fazendo afundar e avermelhar a pele. O homem-menino gemeu de dor. 

Eu não mereço, ele disse baixinho, debruçando-se sobre meus pés, à minha ordem, para massageá-los e lamber os meus dedos, um a um. Você não merece, eu repeti com rudeza, sentenciando o castigo do qual ele já desconfiava: nada de putas para você esta semana. Você foi uma porcaria desobediente da última vez, lembrei a ele, reprovando-o pela tentativa de me tocar sem a minha permissão.

Ele abaixou a cabeça e começou a balbuciar suas fraquezas, primeiro declarações ininteligíveis, e então sua voz se tornou mais humana, como tu é linda, ele sussurrou... Essa tua boca, esses teus olhos... a bunda, meu Deus, continuou, quanta, mas quanta inveja sinto dos homens que você desejou e por quem se apaixonou e beijou, chupou e cavalgou...

Silenciei-o com um tapa seco. Fique calado e pare de se lamentar. Eu estou aqui, não estou? Empurrei o salto outra vez, lacerando a pele morena próxima ao mamilo. Sorri de prazer, imaginando que algum pelinho tinha sido arrancado.

te amo te amo te amo, ele disse choroso, antes de ser derrubado, pois empurrei-o com força. Eram apenas palavras.

Olhei-o sem ternura ou compaixão e contei a ele esta história sua favorita nos nossos encontros, sobre meus sonhos e seus segredos: saio caminhando, consciente de que tudo não passa de uma experiência da fantasia. Imagine a liberdade, ser e dizer absolutamente o que se quer, percorrendo sem roupa o mundo onírico e subjugando qualquer e apetecível ser vivo ao meu fetiche condenável, ao gozo iminente e sagrado que conheci dentro do sono: escolho um, qualquer um, ou uma, qualquer uma, e me ofereço pelo meio das pernas sem opção de recusa, em busca do orgasmo eleito, para ser chupada e sugada, a buceta imaginosa sendo esfregada na boca dalgum transeunte quimérico enquanto, sobre a cama no mundo das coisas materiais, a buceta em viva carne se contorce e prepara para o fim do sonho e o começo de mais um dia. 

Como eu queria ser uma dessas pobres, escravas criaturas, o homem-menino intrometeu-se, insinuando-se em direção à minha vulva quente e molhada do movimento dos meus dedos. Empurrei-o uma última vez, sua mão pequena movendo seu pau com desespero, você apenas olha, avisei-o.

Mais um pouco, só mais um pouquinho, chupei meus dedos e fiz círculos úmidos ao redor dos meus mamilos, o gozo a segundos, tão perto!, o homem-menino quase órfão do meu prazer, até que gozei e gritei muito alto, para só então dar a ele, pobrezinho, autorização para fazer o mesmo, solitário, em suas mãos.

Sorri e presenteei-o com a calcinha usada naquela sessão, conforme trato, recomendando que fosse bonzinho e desejando que tivesse felicidades em seu caminho, saindo dali. 

Até a próxima semana, ele acenou, enquanto recolhia suas coisas insignificantes. 

Até a próxima semana, se eu quiser.




Comentários

  1. Como não se imaginar em tal conto? E não querer? Amo seus textos.

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  2. Como resistir uma provocação dessas, e suportar olhar sem poder tocar?... Bom, acho que essa deve ser a magia afinal.

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  3. Ele riu do tremor. As coxas dela tremiam em turnos espaçados...sem pressa. Ela, dona do próprio prazer, se permitia esse luxo: gozar tanto quanto pudesse. Ali, de bruços, a deusa mortal, encerrada em carne, gozo, esperma, e suor, sorria a cada convulsão, saboreando com os lábios fios espessos de felicidade esbranquiçada. No primeiro jato, entre os seios pequenos, ele disse "tua beleza". No segundo jato, contra a epiglote, ele riu alto e disse "teu alimento". No terceiro jato, bem dentro da buceta quente, ele explodiu um "teu merecimento". O quarto jato, intenso, preencheu sem cerimônia o reto, em três golfadas inesperadas. O repuxão que começou na nuca dela, foi se arrastando pela coluna, explodindo cada músculo das costas, contraindo ambas as nádegas, e retorcendo braços e pernas. No ouvido esquerdo dela a voz rouca dele explodia entredentes: "tua busca, teu encontro". Os montes macios e nada tímidos da bunda tremiam felizes com aquela sensação -- e ela sabia que isso, aí, estava além de um simples "amor de pica". Não, pois ela sentia a quantidade, a espessura, e a quentura do líquido seminal preenchendo tudo o que ela era...tudo o que ela queria ser. Puta? Meretriz? Deusa Pagã? Pouco importavam essas etiquetas para ela. Ali era Terra Santa. Sem nomes, sem apegos, sem traições. Ela podia sentir aquele sorriso cruel e sarcástico dele em sua nuca trêmula. Ela podia sentir cada dedo daquelas mãos peludas entrando sem nenhum respeito por todos os seus orifícios, como um artesão ainda insatisfeito com sua obra-prima. Ela podia ouvir o coração obscuro que explodia naquele peito amplo e terrivelmente masculino. Mas ela era Terra Santa. E todo pecado era limpo...ressuscitado...quando em sua forma espessa e esbranquiçada, esse pecado viesse a adentrar no templo, através de todas as suas mais sensíveis portas. Ela já o tinha absolvido nas últimas cinco vezes. E o absolveria mais uma vez, depois que os espasmos diminuíssem. Ela sentiu a felicidade quente escorrendo pela sua boca entreaberta. E então soube. Ela sabia quando leu o primeiro comentário dele. Ela sabia quando voltou a ler...mais tarde à noite, enquanto seus próprios dedos viravam páginas invisíveis de um contrato pré-nupcial que nunca aconteceu. Ela se permitiu gozar três vezes lendo aquilo. E se permitiu gozar nove vezes depois daquilo. E mesmo agora, três semanas depois, ela se permitiu alongar o corpo novamente, para absolvê-lo com o anûs mais uma vez. O pecado dele, rijo, inconsequente, entrou quente e melado. E mesmo com a região dolorida, ela soube que a próxima oração seria a sua preferida. Como foram preferidas todas as orações anteriores. A extensão daquele pecado, a maldade com a qual ele a machucava, aquelas mãos desrespeitosas que faziam de suas ancas reféns de um martírio bem-vindo...revelaram a ela a última Profecia. Aquela que ficaria na agenda por mais tempo que o sacerdote anterior. E então ela gritou o anátema: "Vin Sousa!" E então ela mergulhou em um mundo cheio de espasmos e gozos rebeldes, cavalgando por todo o seu corpo-templo. As unhas dela rasgaram o linho suave da fronha...e o ódio dela se transformou em pomba santa que alçou vôo...enquanto a boca cruel dele dizia: "Sim...eu sou...e é por isso que você gosta". Depois de acordar, depois do banho demorado, ela ainda jurava ter dito "dona". Mas pouco importava, pois ela era Terra Santa...e se permitia errar. É o erro o que justifica a santidade.

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