Concupiscência

 

A tua boca se fechando sobre a inteireza do meu seio pequeno enquanto a tua língua brinca com o mamilo, feito caçador felino ocupado dos movimentos de uma presa, eu não sei, meu amor, da dimensão que as partes todas do meu corpo, grandes e pequenas, adquirem no encontro com as tuas próprias partes, você acredita que te desejo e me alimento de ti como se fosse a véspera do fim? Queimo desde a posição da tua boca até o recôndito úmido, em breve submerso, da minha buceta que serpenteia à espera da tua incursão, você segurando o gozo durante longos e intermináveis minutos, mais de hora, o pau endurecido e irrigado, sua nascente aflorando sob o toque dos meus dedos e, logo adiante, também da minha boca molhada. Mas primeiro você escolhe estar dentro de mim, dizendo que precisa me comer, que está com fome, muita fome, e não podemos dizê-la tanto em voz alta, que há visitas na tua casa, sua voz tomando o meu ouvido, eriçando pelos, você vai gozar no pau do teu homem?, você me pergunta, acelerando o meu delicioso tormento, por favor, pare, não quero gozar tão depressa, deixe que eu sinta mais um pouco do teu volume aumentado dentro de mim, deslizando, deslizando, sem nunca achar estiagem, contigo não há terra seca, eu vicejo, rejuvenesço, meu espírito hidratado a toda hora como que esvaindo-se do corpo colocado sobre a cruz, o último, derradeiro suspiro, pronto para rasgar, pela força incontestável do deleite, o véu do templo sagrado, e que deus é esse que nos desenhou para tantos tipos e tamanhos de prazeres?, infinitas células desejantes em combustão por todo o território do corpo, fogos de artifício sonoros porque gemidos, você, também um deus, entrando e saindo, entrando e saindo, talvez eu goze assim mesmo, teu corpo assenhorando-se do meu, pele com pele, lábios grandes e pequenos e aquilo que guardam friccionando contra a anatomia suada do teu pau, por que esperar para amanhã?, goza comigo, eu imploro, mas você está decidido, amanhã vamos filmar nosso encontro e você deseja me banhar inteira, vai ser muito, amor, você diz, eu não resisto, e então eu mesma morro por nós dois, abafando os ruídos, silenciando o uivo dos orgasmos, eu poderia ficar horas e eras embaixo de você, bebendo teu suor, ouvindo tua respiração e sentindo que somos uma coisa só, um único organismo tomado de lascívia, mas concupiscência é o meu nome e eu sou muitas, e te adoro e dou a comer da minha própria carne, dentes e unhas e olhos saqueando tudo que encontram pela frente, sim, não te pedirei perdão pela cortina arrancada no momento em que quis gritar e não pude, algum vizinho há de ser grato pela partilha da salvação, senão da inveja, nós rimos e descansamos juntos, e amanhã estaremos reunidos, belos, imensos e ofegantes diante das lentes e espelhos, amando um ao outro, comendo um ao outro, morrendo um no outro.