Para não esquecer como nasceu o Inhamuns


Estávamos deuses sobre uma cama enluarada, esfumaçados pela erva doce em combustão.

"Tira uma foto", eu pedi, vaidosa pelo corpo nu acompanhado do cigarro, único ponto luminoso além dos astros que podíamos ver naquele céu predial. Foto-segredo que, achada dia desses, fez-me compreender a necessidade deste registro.

Antes do amor, vieram os delírios, dilatados pela língua incendiária.

Não sei se tinha os olhos abertos ou fechados. Sei que fui transportada para um chão de terra e cactos, para ver uma parte de mim ser tomada por um sertanejo sem nome, celebrando a deusa entre as minhas pernas e no meu ventre, até que eu desse à luz uma nova fé.

Depois do gozo, um fio dentro de mim costurou a imagem da mulher sendo amada no meio do sertão estelar. Tecido pouco, insuficiente. 

Então eu quis mais.

Era preciso saber quem eram aqueles amantes, por que estiveram separados, por que se reencontraram e, afinal, quem era aquela mulher e o que ela procurava?

E foi assim que, depois de escrever o que se tornou o prelúdio dessa narrativa, fiz uma viagem-sonho até Tauá, para buscar as linhas completas.

Que estão quase prontas para o mundo.


Foto de Kah Dantas
Sertão dos Inhamuns, janeiro de 2019

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