Quando amei uma mulher
Que não se adore o teu corpo pela metade, eu digo, enquanto contemplo as tuas formas despidas, a gosto das deusas da criação, e entendo que são coisa sagrada - ao tato, ao olhar e ao paladar -, feito a lembrança da tua chegada a este terreno mundano e que certamente foi como a tua chegada ao meu próprio firmamento, atraindo planetas, endoidecendo órbitas e reorganizando galáxias. Tão apaixonada estou, minha língua devastada pela úmida espera nos segundos antes de te poder lamber, os pelinhos nas curvas das panturrilhas, contornando os joelhos e subindo pelas coxas, até que eu levante as tuas pernas e alcance o teu cuzinho, massageando-o devagar, como igualmente faço ao teu sexo - uma deusa instituindo morada na minha boca. Coloco-te de bruços e o formato Dela - da tua bunda - convida-me a tantas e diferentes homenagens, o meu corpo a ponto de se desgovernar em razão dos impulsos febris que este culto me desperta, enquanto levanto o olhar para o espelho e vejo nós duas à luz amarela do abajur sobre a mesinha de cabeceira, um copo d'água à nossa espera junto da embalagem do óleo de semente de uva que uso para deslizar sobre a imensidão da tua pele. Tenho vertigens, amor. Então você me oferece a joia, vermelhinha como os lábios recém-mordidos no teu rosto e companheira do róseo que se esconde entre o marrom dos outros lábios, uma profusão de cores imperiosas a qualquer retina que queira experimentar as luzes do mundo, e eu me debruço sobre tuas bem-aventuradas montanhas como que prostrada diante duma sarça ardente, para servir-te com a minha obediência: empurro com amor a pequena brilhante para dentro do seu bumbunzinho apertado e escuto o teu gemido de prazer, para depois outra vez me dedicar aos beijos, às lambidas e ao movimento ligeiro e esfomeado da minha língua no teu sexo deífico. E esta é a parte assombrosa de amar outra mulher: achar nela um reflexo do que pode ser o meu próprio esplendor, o corpo esculpido feito a viva escultura de uma santa em mármore, serpenteando em amorosa contrição, os olhos abugalhados de terror e gozo, vida e morte, o seio perturbado pelos pulmões que se aprontam para o último fôlego. O teu prazer é a minha salvação, eu te digo, minha língua seguindo os teus comandos, isso, continua assim, você ordena, não para, você não permite, eu vou gozar e desfalece longamente através dum uivo que ecoa no teu quarto cheiroso dos nossos suores e repousa nos nossos cabelos molhados, colados ao rosto e às costas. Eu te amo, você suspira, e assim descubro que não pelo sacrifício dum homem, mas através da morte duma mulher, extinguem-se os meus pecados.
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ResponderExcluirQue desfecho maravilhoso! O amor, base única de toda a cristandade, evocado como sendo o caminho, a verdade e a vida. A condição para a remissao dos pecados. A simbologia da morte pelo orgasmo, trocando o sacrifício pelo louvor, também é de uma sensibilidade ímpar. Uma mulher reconhece a própria deidade, em sua imagem e semelhança, e nela deposita sua agonia, suas dores e paixões, confessa seus pecados enquanto os comete, faz enfim suas presses, recebendo a dádiva de ver a morte e ressurreição acontecendo sob seus próprios lábios. Esperamos ansiosos os próximos capítulos desse rico evangélio.
ResponderExcluirComo pode não amar essa poesia dos meus desejos
ResponderExcluirMuito intenso, gostei do enlace, do ritmo.
ResponderExcluirPerfeita narrativa. Excitante. Inteligente. Sensual.
ResponderExcluirDivinamente maravilhoso!
ResponderExcluirAmém!
ResponderExcluirE assim criam-se as galáxias...
Gosto dessa dualidade entre a morte e a descoberta do sublime prazer. Tem algo de plenitude e liberdade sublime. Muito bom!
ResponderExcluirÉs tu na imagem, nesse desenho?
ResponderExcluirGostei mesmo dos lábios mordidos, do empurrão pra dentro do bumbunzinho apertado, do quarto cheiroso de suor... isso é forte, dá gosto
ResponderExcluirÉ vc na foto
ResponderExcluirEitaaa.. poxa que qualidade...fantástico
ResponderExcluirTe conheci a pouco pelo Twitter. E estou encantado
ResponderExcluirSensacional, impossível não se encantar com esses versos e com tudo que você representa. Espero que poste com mais frequência, sentimos saudades
ResponderExcluirOii
ResponderExcluirDesenho da Kah Dantas. Ficou muito bom e que bela história.
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