As cataratas de C.
Ia sempre ao banheiro para fazer xixi e puxava a calcinha para perto dos olhos, depois de abaixá-la, quase metendo-a nas fuças, para examinar o tanto de tesão que tinha sentido, os burburinhos de pele roçando e as palpitações no meio das pernas, igualzinho como se tivesse coração batendo lá também (e tinha, é sabido).
Se estava ensopada, fosse lá e repetisse. Melhor: consumasse o ato e experimentasse o indivíduo de vez. Tinha sopa, tinha orgasmo.
Se estava só meladinha, dava certo ainda mais uma chance, quem sabe. É que nenhum molhadinho deveria ser desprezado, porque nem sempre os bons amores começavam já em cachoeiras.
Agora, veja: se não tinha coisa nenhuma, vade retro, nhem, nhem. Tinha nada que perder tempo.
E foi assim mesmo, sempre muito sistemática, que C. descobriu o absoluto amor da sua vida. É que um dia andou agarrada a um rapaz, toda se amolegando, como diria sua avó, e olhe que C. nem tinha dado nada por ele, porque andava há dias com o coração partido por causa de outro fazedor de façanhas no mundo das roupas de baixo encharcadas, quando aconteceu o inaudito: vieram cataratas.
Pulou nervosa! Se era parto, se era bexiga solta, não estava sabendo de nada, imagine a vergonha!, o que pensaria o menino?, se era sangue ia morrer, precisava nem piscar, porque já tinha sangrado no tempo certo e não estava esperando chico naqueles dias.
Correu para o banheiro, nervosa, arregaçou a calcinha outrora branquinha, agora escura e empapada e constatou: não era sangue, nem parto, nem mijo; era amor.
Olhou de perto, cheirou, passou assim um dedo, depois colocou a mão na barriga e esperou. Vai que o corpo dizia alguma coisa. Não disse nada.
Pois foi isso mesmo. Voltou para o quarto com os olhos inundados de lágrimas, tremendo emocionada, a calcinha esquecida no banheiro e C. muito pronta para morrer afogada quase uma meia dúzia de vezes, e para arrastar consigo o homenzinho impressionado, instantaneamente enamorado.
Dali mesmo, imagine você, dali mesmo eles imergiram.
Esse negócio de roçar pele é perigoso mesmo! Delicioso conto, divertido e envolvente!
ResponderExcluirQue bom, que bom que você gostou! Eu adorei escrevê-lo, oh!
ExcluirÓtimo conto e desenho do Al Duarte ilustrou bem tudo. Ele tbm escreve coisas bacanas, apesar de ser chato a beça! Abraço
ResponderExcluirMuito interessante, as palavras soltas e alegres, um conto que encanta e assanha!! bjs
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